Estamos a aproximar-nos de novas eleições autárquicas e há uma questão que não pode nem deve ser ignorada, “qual será o papel dos jovens neste momento decisivo?”
A juventude, em regra, é uma palavra estruturante e fundamental nos discursos políticos, onde os jovens são vistos como o “futuro do país”, no entanto mais parece uma palavra para adornar as intervenções, pois flutua e nunca materializa numa verdadeira participação concreta e ativa dos jovens em lugares onde possam ter voz, reconhecimento e que lutem pelo que acreditam, ficando em segundo plano, pois “palavras, leva-as o vento”. Os jovens são, sobretudo, o presente, é aqui e agora que estudamos, trabalhamos, inovamos e que queremos participar ativamente na sociedade, é também neste presente que temos de assumir a nossa responsabilidade como cidadãos conscientes e comprometidos.
A indiferença tem sido, ao longo dos anos, um dos maiores perigos para a democracia.
Quando não participamos, abrimos espaço para que outros decidam por nós. Platão lembrava que “o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”. Essa lição, com mais de dois milénios, mantém-se atual, a política também se faz pelo Direito ao voto, a abstenção é um convite aberto ao retrocesso democrático. Num tempo em que a extrema-direita cresce e normaliza discursos de ódio, que atacam a igualdade, a liberdade e os direitos conquistados após o 25 de Abril, cada voto jovem torna-se uma voz de resistência. Não podemos permitir que esses discursos sejam banalizados (o que infelizmente já estão), nem que os valores fundamentais da Social - Democracia sejam postos em causa pelo silêncio de quem se abstém.
Salgueiro Maia, um dos rostos maiores de Abril, dizia: “Se o povo desejar ir para o inferno, é para o inferno que iremos.” A democracia que os Homens de Abril conquistaram, respeita a vontade popular, devendo essa vontade ser exercida com consciência e responsabilidade. Cabe a nós mantê-la viva.
A juventude não é apenas herdeira de um futuro incerto. É o principal pilar de um presente que precisa de participação, de debate construtivo e de ação democrática. Nós sentimos diariamente as consequências da crise climática, da precariedade laboral, da falta de acesso à habitação. Nós sentimos na pele as dificuldades e, ao mesmo tempo, temos a energia, a vontade e a criatividade para construir alternativas e erguer pontes onde muitos as querem destruir. José Saramago disse, “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” É com este apelo que quero terminar, não deixemos que a apatia seja cúmplice do retrocesso. Somos jovens, somos cidadãos do presente. E o presente exige a nossa voz, compromisso e responsabilidade.
Loulé, 19 de Agosto de 2025
José Adelino Cavaco Nascimento
Presidente da Comissão Permanente do Conselho Municipal da Juventude de Loulé
Membro do Conselho Municipal de Educação de Loulé
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