Os grupos de eleitores mais velhos têm desvalorizado a opinião jovem constantemente: ou porque não viveram o tempo da Troika já na vida adulta, ou porque simplesmente são “demasiado novos para perceberem de política”. A verdade é que, apesar de os jovens serem o futuro do país e a força que o conduzirá, uma parte deles prova, inconscientemente, não estar à altura do debate político. Infelizmente, uma quantidade significante da juventude tem formado cada vez mais a sua opinião política com base nas redes sociais em debates frequentemente reduzidos a “memes”, clipes de poucos segundos e estereótipos. Isto, mesmo que não pareça, tem consequências graves para a democracia.
Este aumento crescente de “palas nos olhos” que impedem os eleitores de olharem para a periferia e os limitam a ver na mesma direção provoca a sua aderência, por vezes subtil, a discursos populistas e manipulados, que parecem defender a juventude, mas que, na verdade, só a ilude com frases fáceis, com o que querem ouvir e com propostas vazias ou inexistentes. Sem uma base histórica forte, a maioria não reconhece padrões autoritários do passado que estão a ressurgir, com novas caras e novos slogans (ou até idênticos, traduzidos de alemão para o português).
Ultimamente, a política tem-se tornado num palco de espetáculo nas redes sociais, onde vence na popularidade quem tem o vídeo mais engraçado, mais viral ou mais “diferente”, e não aquele que apresenta, de facto, as melhores propostas para o país. Esta mentalidade tem conduzido os eleitores a consumirem este conteúdo “político” como se se tratasse de um reality show, encarando os partidos políticos como clubes de futebol e não como grupos de propostas específicas para o país. São imensos os casos em que jovens que apoiam o Chega concordam com propostas ou ideologias específicas, mas que, quando se “revela” que são defendidas pelo PS ou pelo Livre, por exemplo, mudam drasticamente a sua posição e encetam uma perspectiva de crítica total e negacionismo, simplesmente por não serem medidas do partido que supostamente defendem. Este é um dos efeitos mais notáveis resultantes da visão política assemelhada à defesa de um clube desportivo – e o voto destes jovens vale tanto como o de todos nós, por mais ou menos informados/conscientes que sejamos.
Por isso, é urgente ensinar, espalhar e aprender política: é preciso entender História para saber reconhecer o seu carácter cíclico e saber como evitá-lo, juntamente com os erros do passado; é preciso entender as diferentes bases ideológicas para que se possa debater, pensar, escolher e votar de forma consciente e, de facto, adequada às necessidades de cada um, do país e do mundo, sem desinformação nem estereótipos. Não há presa mais fácil para o populismo do que os desinformados, nem há maior ameaça à democracia que esses mesmos – são eles que elevam o fim da vontade popular ao poder, através, ironicamente, do voto.
Se queremos “mudar o sistema”, temos de o entender primeiro. Ser jovem não é uma desculpa para ser ingénuo ou desligado dos problemas do quotidiano. Está na hora, mais do que nunca, de deixarmos de seguir políticos como influenciadores e começarmos a exigir política séria, com ideias reais e conhecimento do passado. Porque ser populista é fácil, tanto para o político como para o eleitor – mas saber propor medidas pertinentes relativamente a assuntos delicados (como a saúde) exige conhecimento por parte de ambos, e só com ele poderemos evoluir enquanto sociedade.
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