Vivemos tempos de individualismo radical. A meritocracia é glorificada, a desigualdade é normalizada e a solidariedade é tratada como utopia. Numa sociedade onde cada um parece viver apenas para si, o socialismo não é uma palavra do passado, é uma proposta urgente para o futuro. Este artigo não defende o socialismo como rótulo, mas como princípio ético, político e coletivo. Aquele que pergunta: que sociedade queremos construir?
Hoje, vende-se a ideia de que quem tem sucesso, merece. E quem falha, também. Mas esta lógica ignora as desigualdades de partida, a precariedade, o acesso desigual à educação, à habitação e à saúde. Num país como Portugal, em que a coesão territorial é tratada como um tema “secundário”, conseguimos perceber que as desigualdades são cada vez maiores.
O neoliberalismo ensina-nos que “cada um deve tratar da sua vida”. O socialismo responde: ninguém se salva sozinho. Numa sociedade verdadeiramente justa, o sucesso de uma pessoa não se constrói à custa do sofrimento silencioso de milhares.
O termo “socialismo” continua a assustar porque foi distorcido. Mas na sua essência, o socialismo não é autoritarismo nem controlo estatal absoluto. É, acima de tudo, a defesa da igualdade de oportunidades, da proteção dos mais vulneráveis, da partilha equilibrada da riqueza. Num mundo onde 1% da população detém mais riqueza do que os 99% restantes, que outra alternativa pode trazer justiça, senão a redistribuição?
O socialismo acredita que certos bens não devem ser tratados como mercadoria. A saúde pública, a escola pública, o direito à habitação são pilares que não podem estar dependentes do rendimento ou da sorte. A privatização da vida não nos faz mais livres, apenas mais frágeis.
Hoje, mais do que nunca, vemos o crescimento de movimentos que promovem o ódio, a exclusão e o medo do outro. A extrema-direita avança alimentando-se do cansaço social, mas oferecendo falsas soluções baseadas na divisão. Tal como sempre fez. O socialismo, ao contrário, responde com união, solidariedade e um modelo que não sacrifica os mais vulneráveis para manter os privilégios de poucos.
Numa época em que se escolhe fechar fronteiras, cortar apoios sociais e privatizar direitos, o socialismo é a memória viva de que já conseguimos mais e podemos conseguir outra vez. E acima de tudo, manter. Num tempo em que a empatia é vista como fraqueza, o socialismo recorda-nos que a verdadeira força está na solidariedade. É fácil dizer “eu estou bem, não é comigo”. Mas isso é abdicar da ideia de comunidade. E abdicar disso torna-nos menos humanos.
O socialismo, mesmo quando imperfeito, faz perguntas que importam: quem fica para trás? Quem lucra com a exclusão? Quem tem voz? Não se trata apenas de partidos. Trata-se de uma forma de estar no mundo. Uma sociedade socialista é uma sociedade que protege, cuida e partilha. É uma sociedade que entende que não basta ter liberdade se essa liberdade não for possível para todos.
O verdadeiro progresso não é tecnológico, é humano. E nenhum avanço vale se deixar pessoas para trás.
Ser socialista hoje é, acima de tudo, um ato de coragem. Coragem de contrariar o cinismo. Coragem de acreditar que o bem comum vale mais do que o lucro individual. Coragem de defender a justiça mesmo quando ela não é popular. Porque o mundo não está assim porque tem de estar: está assim porque alguém lucra com isso. E o socialismo lembra-nos que o poder não é inevitável, é contestável.
É importante ressaltar que graças ao socialismo conseguimos fazer vários avanços que hoje damos como “certos”. A justiça social é uma luta acesa que é feita diariamente e não devemos esquecer que o retrocesso é possível. O socialismo não é só uma teoria, é a raiz de muitas das vitórias mais justas da nossa história coletiva. Foi o socialismo que nos deu o Serviço Nacional de Saúde, para que a saúde não fosse um luxo. Foi o socialismo que expandiu a escola pública, para que o saber não fosse um privilégio. Foi o socialismo que inspirou uma Constituição que coloca a dignidade humana acima do lucro. Num tempo em que tantos querem privatizar direitos e normalizar a desigualdade, lembrar isto não é nostalgia é resistência. Porque os direitos que hoje damos por garantidos foram ontem conquistados com luta, e podem amanhã ser destruídos com silêncio.
Se a sociedade se tornou egoísta, então o socialismo é o seu antídoto mais urgente. E se nos dizem que o mundo não pode mudar, respondemos como sempre respondeu quem não se resigna: não pode, ainda
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