Vivemos tempos de profundas transformações sociais, económicas e culturais, em que a participação cívica e política é mais necessária do que nunca. Neste contexto, os jovens devem deixar de ser vistos como meros beneficiários das decisões políticas e passar a ser reconhecidos como agentes ativos na construção do presente. Estudantes do ensino secundário e universitário têm hoje uma consciência crítica apurada, competências diversas e uma forte ligação à realidade que os rodeia são parte da solução e não apenas observadores do problema.
Contudo, em muitos municípios, as políticas de juventude continuam a ser encaradas como acessórios, muitas vezes limitadas a iniciativas pontuais, eventos recreativos ou programas com pouco impacto estrutural. É preciso ir muito mais além. É preciso ouvir, envolver e confiar nos jovens.
A verdade é que, em várias autarquias, a política local deixou de responder aos sonhos e às ambições da juventude. Falta habitação acessível, transportes públicos eficazes, oportunidades de emprego, espaços culturais, ambientes seguros para viver e crescer. O resultado é visível: os jovens acabam por sair do seu concelho natal para se realizarem noutros lugares, frequentemente em grandes cidades ou no estrangeiro. É uma fuga de talento silenciosa, mas constante e profundamente injusta.
A verdadeira mudança começa quando os jovens são integrados nos espaços de decisão. Não basta consultá-los em fóruns simbólicos é urgente dar-lhes lugar nas estruturas onde se decide o presente e se planeia o futuro. Assembleias municipais, conselhos escolares, gabinetes de juventude, associações locais e até cargos executivos devem incluir vozes jovens com poder real de intervenção.
Afinal, ninguém melhor do que os próprios jovens para compreender as dificuldades que enfrentam diariamente: os desafios da mobilidade, da habitação, da saúde mental, do acesso ao primeiro emprego, da educação ou da participação cultural. Sentem esses problemas na pele, vivem-nos todos os dias e, por isso, estão em posição privilegiada para propor soluções concretas e eficazes.
Implementar conselhos municipais de juventude com carácter vinculativo, integrar os jovens nos processos de orçamento participativo, apoiar projetos liderados por estudantes, incentivar o associativismo juvenil e apostar em políticas estruturantes a longo prazo não são meros atos de boa vontade são compromissos com a democracia, com a equidade e com o desenvolvimento sustentável das comunidades locais.
Ignorar a juventude é perpetuar o distanciamento entre eleitos e eleitores, é abdicar de inovação, é comprometer o futuro. Pelo contrário, confiar nos jovens, dar-lhes voz e, sobretudo, dar-lhes poder, é garantir que os municípios evoluem com mais justiça, mais criatividade e mais sentido de comunidade.
Porque um território que ouve os seus jovens, é um território que cresce com consciência, energia e esperança e não um espaço que os afasta.
Alexandre Graça
Licenciatura em Gestão de Empresas, Universidade do Algarve
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