Será que os extremos são o problema ou a consequência do problema?
Vivemos tempos em que a palavra “extremismo” é usada como arma. Uma palavra fácil, preguiçosa, lançada contra tudo o que foge à norma estabelecida, ao consenso confortável de alguns "lá de cima" que há muito deixaram de ouvir o povo. Mas será, de facto, o extremismo um mal absoluto? Ou será antes o grito, rude, desesperado, legítimo, de uma sociedade que já não aguenta mais ser ignorada?
Após uma análise política e social cartesiana da História, chegamos à evidente conclusão que o extremismo não é a raiz dos nossos males. É pelo contrário o espelho onde se reflete a falência de um regime que prometeu tudo e entregou ruínas. Não é um delírio coletivo, nem o surgimento de "figuras enlouquecidas emergidas do campo da psicopatologia" para "assaltar o poder". É o eco dos que foram traídos, dos que já não têm lugar à mesa, dos que veem o seu país desfigurado e as suas certezas destruídas por uma elite que vive acima da realidade.
A chamada democracia liberal, essa palavra tantas vezes repetida sem conteúdo, esvaziou-se. O voto, hoje, pouco mais é do que um ritual sem fé, uma escolha entre rostos diferentes que dizem o mesmo, prometem o mesmo e falham da mesma forma. A alternância de poder não traz mudança, apenas faz girar as cadeiras entre os mesmos nomes, os mesmos vícios, os mesmos interesses. E depois espantam-se quando surgem vozes radicais. Quando o centro se rende, é das margens que vem o clamor.
Acusar os “extremos” de criar instabilidade é inverter a realidade. Eles não são a origem do problema. São a consequência. Não foi um partido radical que destruiu a confiança nas instituições. Foram os partidos do sistema, os que se dizem responsáveis, os que juraram reformar e apenas aprofundaram a decadência. Prometeram justiça, deram miséria fiscal. Prometeram coesão, entregaram fragmentação. Em nome do progresso, rasgaram a identidade dos povos.
Sim, o extremismo pode descambar. Pode tornar-se cego, fanático, intolerante. Mas esse risco não justifica ignorar o seu apelo de fundo. Muitas vezes, o que hoje é chamado de radical é apenas a tentativa de recuperar o que nos foi tirado: a justiça, a autoridade, a pátria, a ordem, a verdade, o mérito. E por muito que se tente insultar esses princípios, são eles que sustentaram todas as civilizações que não colapsaram. Defendê-los não é sinal de loucura. É prova de lucidez.
Não, os extremismos não são um veneno inevitável. São, em muitos casos, o último fôlego de um povo que se recusa a desaparecer em silêncio. Podem ser incômodos. Podem ser duros. Mas ignorá-los ou reprimi-los com insultos fáceis é recusar ver a ferida aberta. E nenhuma ferida se cura tapando-a com slogans.
A escolha está diante de nós. Ou ouvimos quem exige mudança, com razão e com coragem, ou deixamos que o sistema apodreça até ao fim. E quando esse fim chegar, não haverá slogans que nos salvem.
Cabeça de lista à Assembleia Municipal de Reguengos de Monsaraz, mandatário jovem do partido CHEGA
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