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Autárquicas: uma oportunidade de mostrar o poder jovem


Aproximam-se as eleições autárquicas, trazendo consigo novas oportunidades, mas também uma grande responsabilidade. Vivemos num século em que a informação é geral e de fácil acesso: todos temos acesso a notícias, sejam elas verídicas ou não e, de modo geral, os jovens começam, cada vez mais cedo, a procurar perceber e discutir política, muitas vezes através de redes sociais, como o X e o Instagram, que acabam por, na maioria dos casos, potencializar um debate pouco saudável e que não se foca em decidir quem tem melhores ideias, mas usando ataques pessoais e disseminação de fake news, defendendo o seu partido como se fosse um clube de futebol. Contudo, os jovens começam perceber que, muitas vezes, a sua qualidade de vida depende de quem é eleito para cargos políticos e, mesmo que muitos considerem que qualquer pessoa envolvida na política apenas está lá para favorecer os seus interesses e garantir "tachos", esforçam-se por se manter informados e opinar sobre os assuntos da atualidade.

Deste modo, é inevitável pensar que são os jovens que percebem mais acerca dos seus reais problemas e das inquietações e, por isso, considero inegável que os representantes das listas candidatas às câmaras e juntas de freguesia, sejam de que partidos forem, só teriam a ganhar em preencher alguns dos seus lugares com jovens ativos das suas comunidades e freguesias. Com isto não pretendo dizer que os autarcas deveriam escolher jovens e colocá-los nas listas apenas para ganhar uns votos, mas sim ouvi-los e envolvê-los nas suas decisões, visto que apenas estes saberão quais são, de facto, as questões que os inquietam, ajudando, assim, o autarca a fazer um mandato mais inclusivo, focando-se nos problemas de diferentes gerações. Isto é essencial, especialmente nas eleições autárquicas, proporcionando uma política de proximidade que é benéfica para todos os envolvidos.

Contudo, se por um lado este voto de confiança aos jovens é essencial e necessário, não pode ser entregue sem esforço da nossa parte. É verdade que a maior facilidade de acesso a informação trouxe consigo um maior debate entre amigos e fez com que cada vez mais as pessoas, assumam-se do partido X ou Y, mas esta evolução também trouxe pontos negativos, como por exemplo a falta de confiança da população em tudo o que envolve política. Por isto mesmo, apesar de muitos criticarem, sobretudo nas redes sociais, os mais jovens têm receio de dar a cara, expor as suas ideias e oferecer-se para tentar melhorar algo. É verdade que muitas vezes as gerações mais antigas têm tendência a ignorar-nos, ou até a ridicularizar-nos, apenas pela idade, mas isto tem que nos dar ainda mais vontade e determinação de demonstrar que somos tão capazes quanto eles de participar nas decisões mais altas das nossas comunidades.

Por outro lado, outra forma acessível a todos mas que tem passado ao lado dos jovens para demonstrar disponibilidade e vontade de estar nos palcos de decisão, é a participação em juventudes partidárias. Esta questão traz consigo várias problemáticas, ainda mais num período em que os mais novos têm dificuldade em acreditar nas forças políticas tradicionais, por todos os exemplos de má conduta expostos na Internet, fazendo com que as novas gerações não se identifiquem com nenhum dos partidos a 100%. Contudo, é aqui que o maior erro, na perspetiva dos jovens, se encontra, visto que para se filiar a um partido não é necessário, nem sequer aconselhável, que se concorde completamente com as suas ideologias. Não é pelo partido que representas que deves defender a pauta X ou Y, mas sim o seu contrário. Os partidos não são mais que um aglomerado de ideias e, para praticamente todos, é impossível concordar com a totalidade do que estes defendem, se quisermos manter um espírito crítico. No fundo, o que pretendo dizer com isto é que é normal e saudável ter uma opinião crítica e discordar de certas propostas de todos os partidos, tendo também em atenção que a entrada numa juventude partidária não é algo permanente nem é algo que tem de definir a nossa orientação política para sempre. É, sim, uma forma de procurarmos ser mais ouvidos e ajudarmos num partido em que, num certo período da nossa vida, acreditamos que se enquadra mais nos nossos ideais.

Resolvida esta questão, é importante esclarecer que as juventudes partidárias também possuem um papel importante na aproximação dos mais novos à política. No meu ponto de vista, estas organizações devem sempre fazer com que os jovens se sintam ouvidos, organizando sessões para discutir o que está bem e mal a nível local e nacional. Estas ações são benéficas para todos, fazendo com que todos percebam outras perspetivas diferentes das suas, ao mesmo tempo que fazem com que os mais jovens se sintam atraídos por estas iniciativas, por se sentirem ouvidos e compreendidos, motivando-os a participar.

Dito isto, é altura de mudar, isso todos sabem, mas nós, enquanto jovens, só podemos exigir melhorias se estivermos dispostos a lutar por elas e, inegavelmente, as eleições autárquicas são uma maneira excelente de demonstrar a nossa vontade de integrar os mais altos palcos de decisão, visto que, afinal, queremos, apenas, ter o poder de decidir o nosso futuro. Deste modo, deixo aqui uma mensagem de incentivo a todos aqueles que têm ou vão ter possibilidade de ingressar nas listas candidatas: é preciso ter vontade de trabalhar e também coragem para ouvir bocas ou até possíveis represálias apenas pelo que escolhemos defender, contudo, apenas temos legitimidade para exigir um futuro melhor se estivermos dispostos a levantarmo-nos do sofá e fazer algo por ele.


Rafael Silva
Militante do Partido Socialista em Castelo Branco

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