As eleições autárquicas são, por excelência, o momento em que a democracia se manifesta no seu contacto mais direto e genuíno com os cidadãos. É nas câmaras, nas assembleias municipais e nas juntas de freguesia que se exerce o verdadeiro poder político, aquele que transforma o quotidiano das comunidades e reflete a identidade profunda dos seus habitantes.
No entanto, o modelo atual de governação local tem sido marcado por uma crescente distância entre os eleitos e os eleitores, pela burocratização excessiva e pela prevalência de interesses alheios às reais necessidades do povo. Esta alienação política tem conduzido a uma crise de confiança e à sensação de que o poder local não passa de um prolongamento das estruturas centrais, muitas vezes dominadas por uma elite desconectada.
É imperativo, portanto, que estas eleições sejam encaradas como uma oportunidade para restaurar a soberania popular no seu sentido mais autêntico, um poder que emana diretamente do cidadão, que respeita as tradições, os valores e a história de cada território, e que rejeita as imposições de um sistema político que, por vezes, se distancia do povo que deveria servir.
Esta ideia remonta às reflexões de Aristóteles, que já na Antiguidade entendia a “polis” como a comunidade onde o homem pode realizar plenamente a sua natureza através da participação ativa na vida pública. Para ele, a cidade-estado não era apenas um espaço físico, mas o palco fundamental para a realização da virtude e da justiça, onde o indivíduo encontra sentido e pertença. Nas palavras do filósofo: “O homem é, por natureza, um animal político.”
Séculos mais tarde, Alexis de Tocqueville reforçou esta visão ao estudar as democracias emergentes, destacando a importância das instituições locais para preservar a liberdade e evitar a tirania da maioria. Para Tocqueville, a democracia local não é um simples exercício administrativo, mas o cimento que mantém viva a participação cívica e o controlo dos cidadãos sobre o poder. Ele advertia que sem o envolvimento ativo dos cidadãos nas decisões do seu próprio bairro, vila ou município, a democracia perde vitalidade e corre o risco de se transformar numa mera formalidade distante.
A verdadeira renovação democrática começa na base, na proximidade, na escuta ativa e no compromisso inabalável com a justiça, a transparência e a eficiência. É no poder local que se deve garantir que as decisões respondem aos anseios reais da comunidade, que o desenvolvimento económico respeita o meio ambiente e que a cultura e identidade local são valorizadas e protegidas.
Estas eleições não são apenas uma escolha administrativa. São um momento de profunda afirmação política, uma oportunidade para romper com as estruturas que perpetuam o imobilismo e o clientelismo, para devolver o poder a quem verdadeiramente o merece: o povo.
Votar nas autarquias é votar pela dignidade das nossas terras, pela responsabilidade na gestão dos recursos, pela defesa da ordem e pela construção de um futuro sustentável. É reconhecer que o local é onde a política tem rosto humano e onde as mudanças mais concretas se fazem sentir.
Assim, o ato eleitoral destas eleições autárquicas deve ser um grito de esperança e um compromisso firme com a transformação. A democracia local precisa de uma nova primavera, onde a soberania popular seja restabelecida e as comunidades possam finalmente florescer com liberdade e justiça.
Cabeça de lista à Assembleia Municipal de Reguengos de Monsaraz, mandatário jovem do partido CHEGA
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